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terça-feira, 2 de março de 2010

Um novo ciclo para Foz do Iguaçu



Depois de crescer (e sofrer) com os ciclos econômicos provocados pela construção de Itaipu e pelo trânsito de sacoleiros, cidade do extremo Oeste paranaense esbanja otimismo com a expansão do ensino superior.

Um novo ciclo para Foz do Iguaçu
Impulsionada pela formação de um polo universitário na cidade, construção civil supera marasmo de quase uma década

Depois de quase uma década de estagnação, a construção civil vive um surto de crescimento em Foz do Iguaçu, no extremo Oeste do estado. Considerando-se apenas os condomínios horizontais lançados no ano passado, o setor imobiliário movimentou cerca de R$ 80 milhões, e a perspectiva para 2010 é das melhores. O otimismo se apoia no desenvolvimento de um polo universitário na cidade – o que, a exemplo dos ciclos de Itaipu, dos sacoleiros e do turismo, tende a gerar efeitos em cadeia na economia da cidade.

Em agosto, terão início as atividades da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e, em 2011, estreiam os cursos superiores do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Juntas, as duas instituições devem atrair pelo menos 12 mil estudantes nos próximos anos. Esse é o número de universitários que a cidade tem hoje, matriculados em seis instituições particulares e uma pública, a Univer¬¬sidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). No total, elas empregam cerca de 800 professores.

A Unila espera abrir pelo menos mil vagas neste ano e contratar cem professores, além dos demais funcionários. Quando estiver em pleno funcionamento, terá 10 mil alunos, a metade estrangeiros, e 500 professores, a maioria de fora da cidade. O IFPR, por sua vez, funciona provisoriamente no Parque Tecnológico de Itaipu e tem 120 alunos em cursos técnicos. Em 2011, abre seu primeiro curso superior e, em cinco anos, espera abrir 2 mil vagas.
Aquecido que está, o mercado imobiliário responde por algo entre 25% e 30% da movimentação de dinheiro na cidade, garante o vice-presidente do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), Jilson José Pereira. Boa parte desse fenômeno se deve aos condomínios horizontais, tendência que surgiu na cidade em 2002. “Hoje as pessoas procuram casas em condomínios fe¬¬chados, em busca de segurança”, diz o empresário do setor imobiliário José Augusto Caldart. Pelo menos seis condomínios horizontais estão na fase de lançamento, com um total de mil novos lotes que custam cerca de R$ 50 mil cada.

Dono de restaurantes, Dias quer alugar imóveis aos novos universitários
Condomínio
200 lotes vendidos em 5 horas
A Alphavile Urbanismo é um dos grupos que lançaram projetos imobiliários em Foz do Iguaçu. Em 12 de dezembro de 2009, a empresa paulistana colocou à venda seu primeiro empreendimento na cidade, o condomínio horizontal Terras Alpha, com a oferta de 383 lotes em uma área de 227 mil metros quadrados na Avenida Paraná, nas proximidades da Unila.A procura surpreendeu. Clientes chegaram a formar filas de madrugada para garantir os melhores terrenos, e mais de 200 lotes foram vendidos em apenas 5 horas. Hoje, 95% dos terrenos já têm dono, na maioria moradores de Foz. “Nós esperávamos que a venda fosse um pouco mais cadenciada. Nossa surpresa foi muito positiva”, diz o diretor comercial do Terras Alpha, Fábio Valle.

Pesquisas.
Segundo Valle, a empresa vem acompanhando a movimentação e a economia da cidade há pelo menos 18 meses, inclusive por meio de pesquisas de mercado. Os indicadores, revela o diretor, desenham um cenário animador. “Observamos que Foz do
Iguaçu tem um indicativo de crescimento muito interessante, em comparação a outras cidades do Paraná e mesmo do Brasil. Isso nos colocou a oportunidade de fazer um investimento imobiliário.” O Terras Alpha é apenas o primeiro dos empreendimentos que a Alphaville pretende fazer em Foz – o primeiro condomínio ocupa apenas um terço do terreno que ela comprou.

Classe média
A percepção do mercado local é que a maioria dos compradores de lotes em condomínios horizontais pretende construir para alugar ou vender o imóvel – em especial para professores e estudantes da futura universidade. Professores tendem a trazer a família, enquanto estudantes podem se reunir em “repúblicas”, comprando ou alugando casas de “padrão classe média” nos condomínios.
Como a construção de imóveis residenciais praticamente parou entre 1997 e 2006, hoje faltam moradias que custem de R$ 60 mil a R$ 150 mil em Foz do Iguaçu. Por isso, segundo corretores, se a Unila começasse a funcionar hoje não haveria imóveis para acomodar todos os estudantes e professores que viessem à cidade. O potencial de crescimento do setor é grande e já atrai investidores de outras cidades, revela Paulo Castegnaro, delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).
Na região norte de Foz, área que abriga a hidrelétrica de Itaipu e a Unioeste e onde a Unila está sendo construída, o valor dos terrenos mais que dobrou nos últimos tempos, diz Pereira. “Lotes que eram vendidos por R$ 5 mil a R$ 10 mil hoje custam entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.” Mas a região da Unila não é a única com potencial de crescimento. Em Foz ainda há muitos vazios urbanos propícios para a construção, no centro e nos bairros. Exemplo disso é a porção leste da cidade, outra que se tornou referência em condomínios horizontais. Segundo o Secovi, são de Foz do Iguaçu 90% dos 320 condomínios cadastrados em seis cidades situadas na regional Oeste.
O empresário Fernando Rodrigues Dias está entre os que apostam na prosperidade de Foz. Chegou de Maringá há dois anos e já tem três restaurantes no primeiro shopping center da cidade, o Cataratas JL. O terceiro ele inaugurou no fim de 2009, já pensando nos futuros moradores da cidade. “O público universitário é um público de shopping e de aluguel”, diz o empresário, que recentemente comprou um imóvel no centro para alugar a estudantes, e com o mesmo objetivo predende aquirir outros apartamentos de dois e três quartos. De olho no mesmo público, Dias também quer investir na área de vestuário. “Em Maringá, quando tem vestibular, a cidade movimenta milhões em poucos dias. O público universitário vai procurar certos tipos de marcas e roupas que aqui ainda não tem.”
Cidade tenta superar histórico de altos e baixos
Embora tenha localização estratégica, na fronteira com o Paraguai e a Argentina, Foz do Iguaçu só ganhou notoriedade a partir da construção da usina hidrelétrica de Itaipu, em 1970. Naquele ano, a cidade tinha 33.970 mil habitantes; uma década depois, o número chegou a 136.320. O fenômeno Itaipu gerou crescimento – novas moradias, escolas, casas comerciais e até bairros inteiros no entorno da usina –, mas também mazelas.

Com a desmobilização da obra da hidrelétrica e o fim dos grandes investimentos em energia, milhares dos chamados “barrageiros” – trabalhadores nômades que migravam conforme se anunciavam novas obras de hidrelétricas – ficaram sem emprego. O mercado formal não conseguiu absorver a maioria, e muitos deles migraram para o trabalho informal. “A população que veio acabou ficando, mas a cidade não teve outra grande obra depois da usina”, diz o professor do curso de Administração da Unioeste Guido José Schlickmann.
Na sequência, a cidade passou por vários ciclos econômicos, como o do chamado comprismo, protagonizado por sacoleiros vindos de todo o Brasil para comprar no comércio paraguaio e que acabavam por movimentar hotéis, restaurantes e bares de Foz. Com a repressão ao contrabando nos últimos anos, essa fonte diminuiu, e a cidade passou a sobreviver apenas do turismo e da renda gerada pelo funcionalismo público – que cresceu à medida em que ficou mais intensa a atuação na região de órgãos como Receita, Polícia e Justiça federais.

Retomada
Hoje, três quartos dos 320 mil habitantes vivem com até 3,5 salários mínimos. Estima-se que, do total de trabalhadores da cidade, 56% sejam informais. Além disso, a maioria da população tem baixo nível de escolaridade – quase metade dos jovens de 16 e 17 anos estão fora da escola.
Mas, para Schlickmann, a vinda da Unila e do IFPR devem consolidar Foz do Iguaçu como cidade universitária e recolocá-la no caminho do desenvolvimento. “Foz estará muito bem dentro de dez anos e isso deve ter como impacto uma diminuição da violência e da pobreza”, diz. Para a presidente da Acifi, a associação comercial e industrial da cidade, Elizangela de Paula Kuhn, a maior vitória é a melhora da imagem. “Estamos mudando a imagem da terra da ilegalidade.”

Publicado em 28/02/2010 Denise Paro, correspondente
Paulo Fernando Quintella - Diretor
quintella@districal.net

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